MEMÓRIAS - Gregório Bezerra

Mais de 30 anos após a publicação das Memórias de Gregório Bezerra (1979), o lendário ícone da resistência à ditadura militar foi homenageado com o lançamento de uma nova edição da sua autobiografia pela Boitempo Editorial, acrescida de fotografias e textos inéditos, e em um único volume. 
O livro conta com a contribuição decisiva de Jurandir Bezerra, filho de Gregório, que conservou a memória de seu pai; da historiadora Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, que assina a apresentação da nova edição; de Ferreira Gullar na quarta capa; e de Roberto Arrais no texto de orelha. 
Há também a inclusão de depoimentos de Oscar Niemeyer, Ziraldo, da advogada Mércia Albuquerque e do governador de Pernambuco (e neto de Miguel Arraes) Eduardo Campos, entre muitos outros.
Em Memórias, o líder comunista repassa sua impressionante trajetória de vida e resgata um período rico da história política brasileira. O depoimento abrange o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979.
No exílio começou a escrever sua autobiografia. Nascido em Panelas, no Agreste pernambucano, a 180 km de Recife, Gregório era filho de camponeses pobres, que perdeu ainda na infância, e com cinco anos de idade já trabalhava com a enxada na lavoura de cana-de-açúcar. 
Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira, e por conta disso totalizou 23 anos de cárcere em diversos presídios e épocas.
Foi deputado federal (o mais votado em 1946) pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), ferrenho combatente do regime militar, e por essa razão protagonizou uma das cenas mais brutais da recém-instalada ditadura pós-golpe de 1964.
Capturado, foi amarrado em um jipe militar e arrastado pelas ruas do Recife, com as imagens sendo veiculadas pela TV no então Repórter Esso. A selvageria causou tamanha comoção que os registros da tortura jamais foram encontrados nos arquivos do Exército.
Apesar da dura realidade, Gregório jamais cultivou o ódio ou o rancor. Era considerado por todos uma alma doce e generosa. Não foi um homem de letras, mas um grande observador e um brilhante contador de histórias. 
É assim que suas páginas são narradas, sem afetações ou hipocrisia, passando pelo interior da mata e do agreste nos tempos de estiagem e seca, pelo Recife, o exílio na União Soviética, a militância no PCB. 
Dizia ele: "Não luto contra pessoas, luto contra o sistema que explora e esmaga a maioria do povo". Em 1983 o Brasil perdeu este herói da pátria, um de seus grandes defensores. 
Para sorte dos que estavam por vir, porém, ele deixou suas memórias, recheadas de verdades e esperanças que, acima de tudo, representam a história de muitos outros 'Gregórios' que transformaram o seu destino na luta para transformar a realidade instituída.

1ª edição, Editora Boitempo
23x16cm - 648 páginas
 (2011)